quarta-feira, 29 de setembro de 2010

XI ENCONTRO NACIONAL DE PRÁTICAS DE ENSINO DE GEOGRAFIA – ENPEG


O XI ENCONTRO NACIONAL DE PRÁTICAS DE ENSINO DE GEOGRAFIA – ENPEG - será realizado em Goiânia, de 17 a 21 de abril de 2011. O tema deste encontro é "A Produção do Conhecimento e a Pesquisa sobre o Ensino de Geografia".

Abaixo encontra-se o cronograma do encontro para download*, portanto, não percam tempo e inscrevam-se!

http://www.megaupload.com/?d=YQ6F22SV


Para mais informações visitem o site: http://www.enpeg2011.com.br/



* Caso não consigam clicar no link, favor copiar e colar.
Obrigado.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Evento MARCAS DOS PEE's

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Coleg@s,

As mudanças no mundo atual têm acontecido de maneira rápida e muito profunda, implicando numa responsabilidade quanto aos seus desdobramentos, que precisa se fazer coletiva no seio da própria sociedade. Na formação dos sujeitos, essa responsabilidade cresce nas instituições educacionais, mas envolvem, também, outros segmentos organizados da sociedade. A todos cabe a importância de cuidar da formação, garantindo a continuidade dos valores sociais, a ampliação da herança cultural e o desenvolvimento de um modo de produção solidário, justo e sustentável às populações em geral, às gerações mais novas e às futuras sociedades.

Assim, enquanto os jovens se empenham em aprender e profissionais se envolvem em ensinar, a sociedade precisa se dispor à parceria. É acreditando que é possível pensar e agir coletivamente, em prol da formação de professores, os quais, por sua vez, se ocuparão da formação de outros profissionais, como cidadãos conscientes e ativos, que envidamos esforços em espaçostempos múltiplos no LEAGEO.

Para potencializar um movimento de formação continuada na licenciatura de Geografia, na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), a equipe de ensino do curso, concentrada no Laboratório de Ensino e Aprendizagem de Geografia (LEAGEO), promoverá um encontro para dar visibilidade às produções, efetuadas pelos alunos e professores das disciplinas do núcleo de práticas de ensino. Esse evento resgatará trabalhos dos últimos três anos, nestas disciplinas, na perspectiva de expor à sociedade a produção efetuada. Daí seu nome, jogo de palavras: Marcas dos PEE’s. Os PEE’s são os projetos especiais de ensino, que deixam marcas na formação dos alunos.

Entendendo que, no trabalho coletivo, a formação docente se faz riqueza da sociedade democrática, como proposta significativa e afirmativa, gostaríamos de convidar vocês a participar e disseminar (d)esse evento. Veja as informações no folder, disponibilizado neste blog e seja bem-vindo!!!!

Atenciosamente,

Equipe organizadora de Marcas dos PEEs
LEAGEO – CE - UFES


E-mail: leageo@gmail.com
E-mail: marcasdospees@gmail.com



CARTAZ



FOLDER







Ciclo de Palestras

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A atividade do Ciclo de Palestras será realizada neste segundo semestre de 2010 pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais, em parceria com o Programa de pós-Graduação em Educação e a Associação Nacional de Política e Administração da Educação. Abaixo segue a programação:

30 de Setembro (9:00h) - Educação, emprego e pobreza no Brasil - Márcio Pochmann
06 de Outubro (9:00h) - Federalismo e gestão educacional - Marilia Fonseca e Paulo de Sena Martins
28 de Outubro (9:00h) - Profissão Docente: identidades e memórias - Elizeu Clementino de Souza e Lívia Maria Fraga Vieira
24 de Novembro (19:00h) - Políticas educativas e trabalho docente - Dalila Andrade Oliveira

Todas as atividades serão realizadas no auditório do Centro de Educação. Contamos com a sua presença!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Certificados do EST@GEO

Prezados,

Os certificados de participação e de apresentação do EST@GEO encontram-se no LEAGEO, então, favor não esquecer de vir buscá-los. O LEAGEO estará disponível para a entrega dos certificados das 8:00 até às 17:00.

Obrigado.

LEAGEO

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

UM LUGAR E UMA FOBIA


Este post trata de um texto, intitulado "Um lugar e uma fobia", de um aluno de Estágio Supervisionado II da UFES, Igor da Silva Comério, sobre a visão dele a respeito dos professores de Geografia e dos alunos. Abaixo colocamos alguns trechos do texto, para que vocês tenham uma ideia de como o Igor trabalha seu texto:



Ele primeiramente faz uma pequena reflexão a respeito do medo, e a partir da colocação de que esse sentimento é comum na humanidade, ele faz uma analogia do homem com os outros animais.

"[...] as convergências do medo humano com a dos demais animais, se limita, na capacidade humana, de pensar racionalmente, fazendo agir a partir deste princípio, seguindo-se assim, uma lógica racional, pré-programada pelo cérebro, ao longo da vida, para construir e reconhecer predadores."

Depois segue falando sobre a suas primeiras experiências na sala de aula como estagiário.


"Nas duas primeiras aulas que assisti, me deparei com a apresentação de trabalhos, em grupos, pelos alunos, sendo avaliados pelo professor. A primeira coisa que me chamou atenção foi o barulho ensurdecedor naquele lugar, chamado por eles de sala de aula. Vários alunos gritavam, conversavam de forma desordenada, antes e durante cada apresentação, assim como nos intervalos entre elas. Em contrapartida, o professor falava em tom alto, para tentar se comunicar."

Ele relata, também, a despreocupação e do professor e dos alunos nas apresetações, tirando como conclusão:


"Enquanto eu ficava ensimesmado, fui “acordado” pelo alerta sonoro do fim da aula (como passou rápido!). Ao final das aulas (no total foram duas), sai junto com o professor. No caminho o professor me disse: “[...] demora um pouco, mas viu como a gente consegue dominar os alunos? Este foi um exemplo de sala que consegui o domínio”. Meu cérebro latejou: “Domínio?” Eu jurava que foram os alunos, com sua gritaria ininterrupta, os seres dominantes daquele lugar."


"Observemos: o professor diz “Eu falo alto, porque os alunos gritam. A culpa é deles”, Diz, também: “Eu ganho mal, por isso trabalho mal, a culpa é do estado”. Os alunos dizem: “Eu tiro nota baixa porque o professor me dá nota baixa, a culpa é dele”. Mais uma vez, Professor e Alunos são espelhos uns dos outros. Ambos se comportam como vítimas."


"As vítimas da escola têm como peculiaridade a fobia ao admitir o outro como responsáveis por suas próprias ações. Apresentam, assim, características em comum, as quais ceifam qualquer tentativa de superação através do limite do medo. A adrenalina é gasta pelo cérebro na tentativa de criar uma justificativa que afaste a razão do medo do outro e de si mesmo, no seu erro, como sendo o outro o responsável pela sua condição, ao invés de usar a adrenalina para ajudar na busca por uma solução. Coloca-se a culpa no outro."
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Esses trechos alternados retirados do texto nos fornecem uma visão geral das reflexões do Igor. Portanto, caso queiram saber mais sobre a visão crítica de um aluno a respeito de um mundo em que muitos de nós vivem, não deixem de fazer o donwnload do texto. O link se encontra logo abaixo.

Um lugar e uma fobia - por Igor da Silva Comério
DOWNLOAD

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

LUTO

É uma perda grande para o mundo, quando um menino como o Thiago vai embora. Resta-nos o silêncio, o espanto e a dor.
Mas, penso, que ele desejaria algo mais: a luta, a esperança, a união, o engajamento - quando o mundo está tão partido por desencanto, por indiferença, por solidão, por negligência...
Vocês deram uma clara demonstração que é possível crer no desejo que não é só do Thiago: é nosso.
Então, vamos à reflexão. O que aprendemos com isso? O que podemos fazer agora?
Olhem quantos endereços de email...Olha quanta gente envolvida sem obrigação, só por amor - não esse amor bobo que aparece em figurinhas, propagandas, novelas, fins de filmes... Um amor que é promessa, que nasce espontâneo e cresce responsável entre pessoas que vivem e querem um mundo melhor para Thiagos, Leandros, Lenas, Andressas, Max's, Mayaras, Livias, Marisas...e tantos outros e outras...
Então, vamos cumprir nosso compromisso - assumido com Thiago e com cada um de nós que se envolveu, que buscou, que torceu, que orou, que se preocupou: Cuidemo-nos. Continuemos a nos cuidar com carinho. Continuemos a nos preocupar uns com os outros. E a ensinar outras pessoas a fazê-lo. De diferentes formas: na sala de aula, na internet, na associação de moradores, na igreja, no esporte, na rua, na Geografia...
Não haverá homenagem mais linda, se durar essa promessa. E, sei, Thiago viverá nela...
Um abraço,
Professora Marisa Valladares

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Dinâmicas - Uma bateria/Jogo dos 4 cantos

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Resolvemos colocar algumas dinâmicas para auxiliá-los a trabalharem, cada vez melhor, as suas aulas. São dinâmicas simples, mas gostosas de fazer. Os links das dinâmicas para download seguem abaixo.

Esperamos que gostem.

Dinâmicas:

Uma Bateria
http://www.megaupload.com/?d=6OB5RKL0

Jogo dos 4 cantos
http://www.megaupload.com/?d=UOPLTHX7

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Aluno de Geografia desaparecido


Resolvemos divulgar em nosso blog o desaparecimento de um estudante e amigo: Tiago


Por favor, se o virem, entrem em contato o mais rápido possível.


Obrigado.


sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Ensinar na roça



 
O nome da escola me prometia coisas boas: Córrego Alegre! Fui visitar a escola assim que me autorizaram assumi-la. Era uma tarde quente e meu fusca correu feliz pelo asfalto e sacolejou engraçado na estradinha de terra que terminava antes da escola. Um riachinho, bordejado por pés de jamelão, me recebeu murmurejando e pude conversar mentalmente com ele de cima de uma ponte pequenina, perguntando se realmente eu estava fazendo a coisa certa.

Com esses temores cheguei à escola. Era uma construção típica de escolas rurais: uma classe, um corredor, uma despensa, uma cozinha com fogão a lenha. Tudo triste, sem personalidade, sujo e com ar de abandono permanente. A porta da frente estava meio aberta e, ao entrar, percebi que vacas e bois costumavam transitar por ali, deixando como marcas de sua indiferença ao espaço de saber, seus dejetos inconfundíveis no cheiro e na forma... Do lado de fora havia um banheiro com a porta quebrada e, como todo o conjunto, sujo e entregue ao abandono.

A classe era escura e possuía carteiras, de madeira carcomida, para dois alunos (iguais àquelas que eu me sentara em minha escolinha de criança!) enfileiradas uma atrás da outra. Estavam voltadas para o quadro verde esburacado, de cimento liso. Pensei que sobre ele deveriam bailar reflexos que, por certo, impediriam as crianças enxergarem o que nele fosse escrito. Imaginei o som rascante do giz sobre a textura inadequada do quadro e que vestígios de escrita ficariam visíveis sobre superfície tão lisa...

Algumas crianças apareceram curiosas, mas correram assim que tentei falar com elas.

Havia uma senhora que costumava ajudar a professora anterior como “servente”, só tendo sido contratada por alguns meses. Ela foi chegando, de mansinho, e combinamos que ela faria a limpeza da escola, para que eu pudesse começar no outro dia.

Comecei a trabalhar cedinho no dia seguinte, com o propósito de tornar o ambiente convidativo para a aprendizagem e coerente com as regras de higiene que deveriam ser ensinadas naquele ambiente. Levei alguns livros e aproveitei uma prateleira vazia da dispensa para organizar um cantinho como se fosse uma micro-biblioteca. Pendurei alguns mapas na parede, buscando deixa-los à vista, preservando-os da poeira acumulada, das traças e, estrategicamente, cobrir feios buracos no reboco da parede.

Prometi a mim mesma preparar os famosos e costumeiros cartazes de aniversariantes, ajudantes do dia, regras da turma, registro do tempo, além de outros que estimulassem a leitura, o companheirismo, o estudo. Separei algumas carteiras para um lado, de tal forma que pudessem constituir um ambiente de estudo em grupo. Era complicado porque as carteiras não se ajustavam a tal propósito e, além disso, eu perdia dois lugares no conjunto e mais dois numa das fileiras. Fiquei torcendo para que houvesse mais carteiras do que alunos.

Os primeiros dias de aula foram repletos de surpresas para mim e para as crianças. Fomos aprendendo coisas que nos pareciam muito estranhas. Estranhei muito o fato de que todas as crianças traziam os cadernos encapados de folhas de papel ofício branco, herança do cuidado da professora anterior. Traziam-nos enrolados em um pano de saco, também branco, e, acondicionados em sacolas de plástico. Disseram-me que era uma exigência da “tia”. Mais surpresa fiquei quando constatei que as letras de todos eles eram idênticas à letra da outra professora. Evidentemente, eram resultantes de intensas horas de caligrafia. Eles também se assustavam com minhas risadas e não sabiam se portar diante de minhas perguntas e comentários – do meu ponto de vista, normais e estimulantes. Quando eu me aproximava, se encolhiam, como se temessem uma agressão física.

As aulas inicialmente foram sendo levadas assim: eu buscava atingir o mundo das crianças e faze-las ver o mundo usando os conhecimentos que a escola deveria lhes proporcionar. Eu dividia, como todas as professoras o faziam na época, as tarefas dasséries distintas e me ocupava com uma dessas séries durante um dado tempo, enquanto as crianças das outras séries executavam exercícios de fixação, sozinhas. Não me satisfazia essa forma de trabalhar, mas eu não havia encontrado outra e tentava minimizar a artificialidade da situação criando “deveres”, do meu ponto de vista, o mais aparentemente lúdicos e próximos à realidade das crianças.

Um dia, eu estava bastante chateada com a aula e me assustei com uma galinha que, depois de observar por muito tempo a aula da janela, voou para dentro da sala de aula. Gritei para as crianças: Pega! Pega! Foi um alvoroço só: as crianças corriam esbaforidas e gritavam na excitação do inusitado. Quando, afinal, a galinha foi pega e posta sobre a minha mesa, transida em seu medo, ela evacuou sobre o tampo, fazendo as crianças rirem e apertarem o nariz diante do mau cheiro. Eu não havia planejado nada daquilo, só havia agido intuitivamente, levada por um impulso. Retomando o meu controle, perguntei provocadoramente: Por que esse mau cheiro? As crianças, indistintamente à série que estudavam, começaram a falar sem restrições. Lembravam que a galinha comia restos de comida, milho e bichinhos. Disseram que toda a comida era misturada e passava pelo “papo”, que o papo era a moela. Quando se abria a moela havia mau cheiro também, por que a comida ficava muito tempo ali, espremida e devia se estragar...

Registramos no quadro as palavras: milho, papo, galinha, comida, moela... As crianças disputavam a vez para escrever, buscando acertar a grafia, felizes com a oportunidade de escrever no quadro... Continuamos a conversa, calculando quantos ovos uma galinha colocava por semana e o preço que iriam custar, quando vendidos... A galinha foi embora e nós continuamos desenhando o tipo de pé que tínhamos e que a coitada tinha: qual o mais bonito? Qual o maior? Quem poderia escrever sua opinião no caderno? Quem poderia ajudar o colega a fazê-lo?

Ajudar ao colega nos exercícios parecia ser muito engraçado para eles: era proibido, tia...

Preparamos uma espécie de gráfico para demonstrar quais os pais que criavam galinhas, patos, bois e quais os pais que plantavam café, mandioca, milho...Desenhamos galinhas, bois, cabras, pés de café, árvores e escrevemos sobre eles. As crianças queriam escrever muito e quando não sabiam a palavra, me pediam ajuda e logo estavam encantadas em manusear o dicionário. Organizadas em grupos mapearam a localização das suas casas, os galinheiros, os currais, as plantações...

Não havia mais primeira nem quarta séries. Eram só crianças aprendendo juntas, na solidariedade que se deseja para a sociedade no mundo. Os grupos se reorganizavam de acordo com o esforço em superar as dificuldades que encontravam em seus fazeres ou ao sabor dos saberes desejados... Eu era mais uma aprendendo o meu fazer com seus aprenderes...

Corríamos pelos cafezais num pique de bola que contabilizava quantas vezes a equipe detinha o poder sobre a “redondinha” e cumpríamos os horários da Educação Física. Colhíamos pedrinhas e sementes para o saquinho de contas para solução de problemas de Matemática, escritos como redação de Português. Observávamos pássaros e borboletas, visitávamos hortas, colhíamos frutas e legumes para a sopa, estudando Geografia e Ciências, fazendo e descobrindo a História do lugar...

Discutíamos política, ética e ecologia falando sobre a vida na roça e na cidade. Ríamos. Líamos e escrevíamos: cartas, cheques, atas de igreja, recibos de venda... Fazíamos brinquedos de argila, de lata e de madeira... Muitos desenhos, pinturas, teatros... Fizemos reuniões com os pais e com o pessoal da prefeitura: ganhamos pintura da escola, um banheiro e uma cozinha, máquina na estrada...

Aprendemos. Ensinamos. Vivemos. Fomos felizes. Despedimo-nos numa festa com doces e flores, marcada por um teatro escrito e produzido pelas crianças: choro, tristeza, saudades, lembranças...


Marisa Valladares

Mapas, paisagens e sociedades: por uma Geografia para crianças...



Quando crianças, não separamos as coisas e os acontecimentos da vida em pedaços, com nomes definidos como a escola o faz, ensinando-nos a fazê-lo. Então, a Geografia, que hoje chamamos assim, é para nós apenas a curiosidade e a aprendizagem sobre as formas das paisagens, a compreensão de territorialidade feita a partir do domínio de outras pessoas sobre um dado espaço geográfico ou a sensação de parecença e de pertença nascida na vivência da regionalidade de nossa comunidade... Sequer precisamos tomar consciência desses fatos como algo desconectado do que vamos vivendo matematicamente na constatação de muitas ou poucas pessoas na disputa pelo território ou da historicidade do que se constrói no dia-a-dia, por exemplo. Os mapas, que traçamos mentalmente, nos conduzem em raciocínios que ilustram o caminho mais longo de Chapeuzinho Vermelho e o caminho mais curto do Lobo, rumo à casa da vovó, assim como conduzem nossos passos até aquele canto escondido do jardim onde ficamos emburrados, até que a zanga com os adultos passe...

Na escola, nossas aprendizagens ganham um caráter de organização sistemática: começamos a ver, a pensar e a viver a vida, com todos os seus adereços, na perspectiva consciente de interrogá-la em suas manifestações, de apreende-la em sua complexidade, de desvendar seus segredos...

A Geografia, como outras áreas do conhecimento, começa a tomar a forma das paisagens, os contornos dos mapas e a maneira de viver das sociedades.

As paisagens são a manifestação mais evidente do jeito como a natureza e as sociedades se integram numa organização que evidencia o espaço geográfico. As paisagens são o meio que adultos experientes usam para espiar, estudar e compreender o mundo. As crianças também, só que de uma maneira ingênua, espontânea. As paisagens mudam com o tempo, mas guardam marcas das impressões impostas pelo mesmo tempo. Simultaneamente, adquirem marcas do novo - que são as construções e as desconstruções realizadas pelos fenômenos atmosféricos, pela erosão, pela ação humana, pelas atividades dos elementos hidrográficos, marítimos, da crosta terrestre - escritas em sua face. As paisagens apresentam, assim, “o novo no velho e o velho no novo” (SANTOS, 1986). As paisagens contêm em si as dimensões de territórios e de regiões. Muitas vezes, as razões de algumas dimensões se tornarem territórios estão inscritas nas paisagens, que reúnem as condições geológicas da presença da água ou do petróleo, por exemplo, justificando a luta pela posse da área geográfica e consolidando assim parte das condições que caracterizam a categoria geográfica de território, ou seja, o poder sobre a área. Também é a paisagem que caracteriza parcialmente uma região, quer seja pela condição climática, vegetal ou de relevo, por exemplo.

Daí, que as paisagens tenham íntima relação com o mapeamento. Mapear regiões ou territórios inclui destacar aspectos de sua paisagem, em curvas de nível que revelam diferentes altitudes, em legendas de cores que indicam o tipo de clima predominante, em símbolos que indicam a densidade demográfica das populações atraídas ou expulsas por condições de vida facilitadas ou dificultadas pelas expressões paisagísticas que guardam em seu seio riquezas ou que se tornam adversidades para o trabalho das sociedades.

Os mapas, mesmo não sendo a expressão real das paisagens que percebemos e nas quais vivemos, são uma das formas de representa-las com um determinado fim e a partir de uma concepção implícita em seu fazer. A cartografia escolar se ocupa de ensinar e de aprender a ler mapas feitos por cartógrafos, bem como desenvolve habilidades de mapeamentos com objetivos escolares. As alternativas didáticas para o trabalho com mapas junto a crianças precisam considerar a capacidade de raciocínio descentrado, a capacidade de abstração, habilidades de percepção espacial, competências de representação gráfica. Essas competências, habilidades e capacidades atingem diferentes graus de desenvolvimento no decorrer da infância e com variações de sujeito para sujeito, razão da exigência de conhecimento sobre o assunto e da necessidade de sensibilidade por parte da professora no ensino da cartografia escolar.

A importância da Geografia na formação das sociedades se efetiva pelo tipo de aprendizagens que proporciona, intimamente relacionadas à compreensão das mudanças rápidas que acontecem nos espaçostempos atuais, cujas elaborações são de responsabilidade da ação, omissão, conivência ou desconhecimento dos cidadãos de diferentes lugares do mundo. Tornar essa compreensão uma aprendizagem significativa para as crianças, exige prepara-las para lerem o mundo e escreverem a vida nele de forma sustentável e solidária nas diferenças.

Acreditando nisso, insisto no ensino de Geografia para professoras, explorando as interfaces que se estabelecem entre essa área de conhecimento e outras tantas, numa relação que não pressupõe hierarquia de importância, a despeito da diferença de carga horária, destinada ao estudo pela legislação ou pela unidade escolar às diferentes disciplinas representantes dessas áreas, ou da paixão de quem a elas se dedica... Considerando que na vida, o conhecimento pode ser comparado aos fios que usamos para tecer nossas visões sobre o mundo, podemos entender como nossas decisões e ações conduzirão esses fios no delicado e intricado bordado que representa a história das civilizações, numa perspectiva do cotidiano das pessoas, não na perspectiva do que contam escritores. Ainda que trancemos fios de diferentes cores, perdão, de diferentes saberes de diferentes disciplinas, a tessitura constituirá um todo único, que é o conhecimento auferido pela humanidade, em um dado espaço e em um dado momento. Não é Geografia, embora impregnada dela, tanto quanto a Geografia estará impregnada da trama.

Escolher significâncias de cada área de conhecimento para dizer dessa área, portanto, é e sempre será um risco e um recorte individual de quem executa esse recorte. Estou neste risco, neste traço. Minha escolha por paisagem, mapa e sociedade, assim, guarda convicções pessoais de sua representatividade e significância dos saberes docentes da Geografia escolar posta a serviço da formação de cidadãos.

Parece-me que as paisagens permitem-nos ler Geografia nas aparências do mundo, que os mapas podem nos ajudar em possíveis escritas do que é vivemos geograficamente no mundo e que como partícipes de sociedades podemos nos inscrever na zona de fronteira entre as dimensões de escrita e de leitura da Geografia...

Acredito que nas paisagens circundantes das crianças podemos extrair um campo propício de aprendizagens. Ensinar explorando paisagens significa ajudar às crianças a identificar nelas rios que cortam montanhas em vales, juntando águas que correm de vertentes para irrigar plantações, águas que guardam peixes para alimentação ou que movem turbinas para produzir energia elétrica... Paradoxalmente, é possível incluir na leitura o assoreamento, a poluição, o afogamento de vilas e de florestas, o desvio de cursos de água, a seca no leito ressequido... Se as montanhas podem ser altaneiras e verdes de matas e campos, também podem apresentar manchas de escorregamento de terras em ravinas e voçorocas, se as praias podem se modificar com o reflexo de diferentes fases da lua e com a dança de brisas terrestres e marítimas que caracterizam lugares de veraneio, de moradia bucólica, de comunidades de pesca, também podem acumular o negrume de petróleo derramado, de peixes mortos, de catástrofes resultantes de mudanças no clima geral e até mesmo o encastelamento de mansões excludentes e exclusivas... Se o pasto contrasta com as culturas agrícolas, se espigões se distinguem de mocambos, as paisagens ensinam a ação de sociedades em movimento, podendo ser retratadas em mapas.

Ensinar isso às crianças é mágico e guarda em si esperanças de mudanças planejadas em simples croquis ou maquetes, nos quais podem “brincar a sério” apresentando aprendizagens que sinalizam atenção aos fatos e fenômenos que estão em curso. Aprender com as crianças em suas aprendizagens, garante a elas a importância de suas presenças no mundo. Isso nos dá a concretude de que o futuro é possível e o que hoje nos parece utopia pode ser o sonho realizado lá adiante em paisagens onde sociedades mapeiam um mundo mais bonito, mais justo e melhor de se viver...


de Marisa Valladares